Tente não começar a leitura deste post pensando: nossa, que purista - eu mesma me questionei se não seria mesmo um sentimento de nostalgia me dominando, mas tenho refletido muito e ando mesmo mudando alguns velhos hábitos, agora quero trazer essas reflexões pessoais pra você.
Sou cria dos anos 80/90 em uma casa onde se ouvia muita música e, entre os gostos do pai músico militar à mãe ouvindo sambas e sob a influência do irmão mais velho testando coisas em sua banda de garagem, me criei ouvindo de tudo. Até que enfim, ganhei meu primeiro microsystem com 12 anos e já não precisava dividir o som da casa, escolhia minhas músicas nas lojas de disco ou nas locadoras de CDs (sou desse tempo) e gravava tudo o que gostava das rádios em mixtapes, era um trabalho bastante manual, tátil até, eu diria. É engraçado pensar que eu buscava músicas ouvindo pedacinhos no player da loja e escolhia CDs pela capa, a melhor parte era a antecipação, segurar a ansiedade porque só conseguiria ouvir o álbum completo em casa no silêncio do quarto e não tinha nenhuma rede social pra apitar e tirar meu foco na música, eu era feliz e não sabia.
De uns tempos pra cá tenho reparado como eu já não entendo mais meus gostos musicais, me pego influenciada por perfis ou propagandas de tiktok e perdida em infinitas opções do streaming. Às vezes acho que perdi o paladar, como quando a gente come todos os dias no mesmo restaurante com um cardápio pré-definido por um chefe especialista. Não me entenda mal, gosto de playlists, sei que acabo encontrando muitas coisas legais por ali, mas tenho me sentido perdida com muito mais frequência e sem saber o que escolher pra ouvir, acabo voltando para as redes sociais e me perdendo em alguma trend do momento.
Além disso, gostaria muito de realmente dar mais valor e suporte a artistas que eu realmente gosto, mas quase sempre me sinto na obrigação de ouvir as novidades porque trabalho com isso, afinal, e já nem sei mais quem são meus artistas favoritos hoje.
Eu não estou aqui fazendo uma demonização do streaming, aliás, é justamente essa democratização da música e da produção musical pela tecnologia que nos permite encontrar muita gente bacana e ser encontrada também, mas o que realmente me incomoda é que diante da infinidade de opções, quem me indica músicas já não são mais as pessoas ao meu redor, meus amigos ou pessoas que me influenciam, é o algoritmo que escolhe o que é bom pra mim, e com base em quê? uma música viral que eu ouvi uma vez e achei interessante, mas que talvez não ouvisse de novo e quando vê BOOM! é a mais tocada no meu spotify, assim do nada? Você também não se sente sem autonomia?
Já existe todo um movimento de retorno à mídias físicas como vinil e CD, embora eu ainda ache que pelos motivos errados (capitalismo que chama), mas eu tenho retomado o hábito de ouvir música nos meus CDs antigos e até ando comprando algumas coisas novas. A escolha da mídia é bem particular, mas no meu caso eu acredito que os cds nos proporcionam toda a qualidade de som com preços muito mais acessíveis e são fáceis de dar manutenção durando pra vida toda.
Então começo uma jornada de autoconhecimento através da minha coleção de discos. Aliás , eu também tenho procurado comprar a mídia digital de artistas que eu gosto, é uma maneira de dar suporte ao trabalho e ter uma qualidade de som superior ao streaming que se você não reparou, ainda precisa ser comprimida para ser armazenada de maneira prática. E existe um prazer em segurar um encarte nas mãos, saber quem tocou as faixas e ver as fotos cuidadosamente escolhidas pra contar uma história. Na última visita a loja da discos comprei o álbum Adele 30, por si só já era fã desse trabalho por ser muito íntimo e transitar entre a melancolia de quem procura se entender e a alegria de abraças suas descobertas e incertezas de coração aberto. O encarte é um complemento do álbum como fotos lindas das sessões de gravação, uma verdadeira pintura, um recorte de um momento na vida da cantora. Vale muito a pena ter acesso a esses encartes. Falando como artista, entendi que cada dia se ganha menos nas cotas de distribuição, especialmente para artista independente e a tendência é sempre piorar com as plataformas buscando somente seu lucro próprio. Recentemente o grande compositor Ivan Lins em entrevista falou da importância dos shows e de como os streamings deixaram os ganhos do artista reduzidos a nada e a números. Não existe artista independente que viva de direito autoral, esse luxo é de poucos e ultimamente tende a durar o tempo de uma música viral. Ninguém enriquece com direito autoral.
Pra fechar esse post, quero deixar aqui o shoutout: meus singles e álbuns estão disponíveis pra venda, o que não existir mídia física, eu disponibilizo as faixas organizadas e com encarte. Entre em contato por email ou acesse meu Bandcamp
Me conta, o que você anda ouvindo? Até o próximo eclipse!
:)
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